A história de Tristão e Isolda, de origem celta, não só incendiou a imaginação de poetas, músicos, ficcionistas e dramaturgos por vários séculos - tendo inspirado a célebre ópera de Wagner -, como nutriu aquela que talvez seja a principal concepção de amor do Ocidente: a que considera a paixão amorosa uma loucura, mas também uma bem-aventurança, a qual, para se realizar, não hesita em desafiar as leis e os costumes.
O romance de Tristão, de Béroul, é uma narrativa rimada e metrificada, composta entre 1150 e 1190, que integra o ciclo de histórias do rei Artur e os cavaleiros da Távola Redonda. Considerado uma verdadeira joia dos primórdios do romance moderno, nele não faltam poções mágicas, juras e mal-entendidos, emboscadas, intrigas, travestimentos e mascaradas, numa sucessão de reviravoltas que combinam heroísmo, malícia, humor e lealdade, atravessados por um lúdico e saudável erotismo.
A presente edição bilíngue, apresentada e traduzida por Jacyntho Lins Brandão, professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais, foi vertida diretamente do francês arcaico e recupera, em nossa língua, todo o brilho, o frescor, a inventividade e o colorido dos 4.485 versos dessa indiscutível obra-prima da literatura medieval.
SOBRE O AUTOR
“Não sabem bem como é a história,/ Berox a guarda em sua memória”. Esta é a primeira das duas únicas alusões ao nome Berox ― ou Béroul ― em todo O romance de Tristão. São essas duas ocorrências, nos versos 1.267-8 e 1.790, respectivamente, a pista para que se considere este o misterioso autor desta obra rimada e metrificada de 4.485 versos. Como a narrativa foi composta provavelmente entre os anos de 1150 e 1190, e integra a chamada “matéria de Bretanha” ― o ciclo de histórias em torno do rei Artur e os cavaleiros da Távola Redonda, presume-se que Béroul foi um poeta normando, escrevendo em língua vulgar, no caso o francês, vivo no século XII.